terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Inocêncio

1987, primeiro ano do Curso de Educação Física.
Tudo novidade, aquele burburinho de turma se conhecendo, quem é bonito, quem é a gostosa...
E todas as disciplinas apresentadas, inclusive Anatomia. Professora Vergínia e seu laboratório. Alguém já entrou em um laboratório de Anatomia? Gente, é o máximo da curiosidade nua e crua. Todos aqueles potinhos com formol e um feto - tinha um do tamanho de um feijão e era perfeitinho), ou um crânio, ou um órgão... tudo verdadeiro e tenebroso. O primeiro dia foi só pra apresentações:
- Alunos, esse aqui é um feto, esse aqui é um pedaço de cérebro, esse aqui é um crânio cortado ao meio, esse aqui é uma mão, esse aqui é um órgão genital...
Fantástico!
E tinha os ossos também, todos do corpo, ali completinhos. Eles são um tanto pesados - foi aí que me conformei que por mais magra que eu ficasse não ficaria com peso leve, porque sou ossuda. E pra quem não sabe, cada sutura ou buraquinho ou marquinha do osso tem um nome.
E depois de matar todas as nossas curiosidades, quem vemos ali deitadinho, completamente inerte? Inocêncio.
É um corpo inteirinho, sem a pele, preservado pelo formol. Até o "bigulim" estava lá. Morto, mas estava lá.
Ninguém teve coragem de chegar perto, precisando de D.Vergínia arrastar um a um pra vê-lo. Perfeito.
Como estávamos todos de luvas cirúrgicas, tocamos os músculos, um a um - quase todos, eu digo, ninguém se atreveu a tocar seus documentos pessoais.
Não tem como ficar fascinado com aquela visão. Eu penso que a medicina deve ser apaixonante, apesar de não ser pro meu bico, porque eu só tenho tamanho, qualquer sanguinho (de machucado) que vejo, desmaio.
Foi uma aula emocionante que ficou em nossas mentes por todo o ano de 1987.
Saudades...

            O FÊMUR

                                  



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