sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Premonição II

Depois do acidente que matou Edgar e seu filho, durante 40 dias, Lara morreu em vida. Foram 40 dias de choro, solidão, sofrimento...
E não dormia. 40 dias dormindo o mínimo por noite. Quando se deitava, sentia a presença de alguém, virava e não via ninguém, e com essa aproximação vinha também um odor estranho, diferente, não era perfume, não era doce nem azedo. Diferente.
Muitas vezes ainda deitada sentia como se uma pessoa deitasse ao seu lado... Não sentia medo. Ficava apenas estática imaginando o que seria.
E nesse período de 40 dias, sentia sempre essa presença, não conseguindo identificar. Nos dias em que desmoronava em lágrimas, parecia desfalecer, saiam-lhe todas as forças como se fosse desmaiar... Depois uma paz, o choro passava e dormia.
Passados os 40, agora mais "conformada", poderia tocar a vida sem sofrimento profundo. E começaram os sonhos.
Primeiro a imagem de Edgar, num lugar escuro, tentando dizer algo e não conseguia. Era tão real, como se sua alma despregasse do corpo e flutuasse pela casa, até encontrar Edgar.
Depois, os sonhos eram "lances" dos pouquíssimos tempos que passaram juntos, os beijos apaixonados, e a imagem de Edgar olhando fixo em seus olhos.
Um terceiro sonho ele escrevia uma carta. Era a letra dele, mas não conseguia ler.
Lara entrou em desespero e começou a orar pra que seja lá o aviso que fosse, que os anjos levassem Edgar pra um lugar tranquilo, puro, de paz, como imaginava que seria o céu.
Orava o dia todo, todo dia. Os sonhos pararam por um tempo. E a sensação da presença em sua casa também. Os odores, ídem.
E numa noite, depois de alguns dias sem sonhos, num cochilo Lara vê Edgar... Todo de branco, rodeado de outras tantas pessoas, todas de branco, num lugar iluminado, cheio de pilares iguais àqueles de Roma. No sonho Lara abre uma porta e lá estava ele... Sorriu, acenou e acordou.
À partir deste dia, apesar do sofrimento do acidente, começou a sentir paz. Não chorava tanto, começou a reagir pra vida. O punhal cravado em seu peito aos poucos foi saindo.
E hoje, depois de 6 anos, Lara ainda sente uma presença, os odores, mas são raros.
Ninguém morreu e voltou pra contar como é lá do outro lado, mas é confortante pensar que a vida não é só na Terra, que existe sim o desconhecido. E eles nos veem, e nós os sentimos. Se for como nos filmes, na hora da morte alguém sempre vem buscar, Lara sabe que Edgar vai estar lhe esperando com as mãos estendidas. Como ela sabe?  Ela simplesmente sabe.

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