segunda-feira, 25 de abril de 2011

Solitário

Edmara passara mal à noite com fortes dores no baixo ventre.Como tinha um bom plano de saúde marcou consulta com Ginecologista no mesmo dia.
Tomou um analgésico e foi de táxi. Chegou com uma hora de antecedência para ser atendida mais rápido. Já haviam muitas mulheres esperando e Edmara sentou-se perto da janela pra respirar ar puro. Olhou em volta toda a decoração e um objeto lhe chamou a atenção: um vaso solitário com uma rosa amarela verdadeira.
Não era amarela só amarela, era amarela com um alaranjado perto do cabinho, onde se prendia as pétalas. Bem aberta e seu cheiro exalava por toda a sala de espera.
Imediatamente se lembrou de uma ocasião em que ganhara um ramalhete de rosas amarelas com alaranjado, como esta sob a mesa de canto, de mogno, toda vermelha envernizada, ornada com uma toalha branca de crochê.
Tinha na ocasião 18 anos e quem lhe presenteou foi seu pai. Era seu aniversário e era uma das poucas vezes que seu pai lhe demonstrava um certo carinho. A vida inteira sempre foi seco, duro, áspero e distante. Estava sempre ali, mas distante.
Na verdade foi uma surpresa preparada pelo seu namorado da época, o Alberto. Quando soube da surpresa logo imaginou que não se tratava da iniciativa de pai e mãe. Na hora soube que era de Alberto. Tudo bem, vamos ver a reação deles tendo que cantar o parabéns.
Sua mãe tinha preparado bolo, alguns docinhos, salgados e refrigerante. Alguns parentes próximos, a família de Alberto e alguns amigos.
Foi uma noite ótima, muito riso, muita dança, muita diversão. Mas o som alto incomodava a mãe que vez ou outra olhava de lado com a cara amarrada. Sempre olhava no relógio pra ver se não estava muito tarde pro som alto. Mas Edmara nem se deu conta. Estava feliz pela surpresa.
E o buquê permaneceu ali, no centro da mesa, intacto, dentro de um jarro de vidro. Perfumou toda a casa, e todos, quando entravam pela sala era o primeiro objeto que viam. Pareciam rosas iluminadas.
Estava assim: Edmara e seus amigos no quintal cantando e dançando e os parentes e os pais e sogros na sala assistindo tv.
No adiantado da hora, por iniciativa de sua mãe, cantaram o parabéns e Edmara soprou a vela. O primeiro pedaço foi pro seu pai - que claro, jamais esperaria por isso. Pegou, fitou Edmara e com lágrimas nos olhos, lhe abraçou e em soluços agradeceu pelo bolo.
Edmara agora já com um pé na fase adulta, conseguia entender o pai. A sua criação foi assim mesmo, sem carinho, sem atenção, sem conversa... E foi isso que passou para os filhos. Tinha medo de que se amolecesse não lhe dariam o respeito.
Daí em diante Edmara pensava que quem sabe com esse choro, ele possa ainda em vida, ver que apesar de tudo, ela o amava e o respeitava.
- Sra.Edmara dos Santos Barbosa, pode entrar, por favor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Olá, seja bem vindo e deixe seu comentário!

Eu os responderei por aqui mesmo ou por email, se achar necessário.

São muito bem-vindos, sempre!