domingo, 30 de novembro de 2014

Promete?


      - Quem fala? - perguntou Alesca, segurando o celular com mãos trêmulas.

      - Rute. Quem é? - respondeu do outro lado da linha.

      - Oi, aqui é Alesca, você não me conhece, mas preciso te contar umas coisinhas. Pode me ouvir? - ainda com mãos trêmulas e com voz embargada, quase se derramando num choro.

      Rute, mesmo estranhando ouviu pacientemente. Alesca contou, com riqueza de detalhes, sobre um homem que ficara noiva. Antônio Pedro. O mesmo Antônio Pedro que vivia junto com Rute. Contou como se conheceram, de todas as promessas feitas, detalhes de como planejavam casamento e até o dia em que conheceu sua família.

      Na verdade já moravam juntos e devido ao seu trabalho, Antônio Pedro viajava semana sim, semana não, sempre voltando todo fogoso para seus braços. Abriram até uma conta conjunta e guardavam dinheiro para viajarem no fim de ano, em suas férias. Alesca era vendedora autônoma, então seus horários eram flexíveis, sem problemas para viajar e tirar uma folga de vez em quando.

      Rute ouvia e retrucava, chamando Alesca de maluca, de drogada, de imbecil, mas não tinha coragem de desligar o celular. Por fim perguntou onde conseguira seu número. "Na agenda de Antônio", respondeu de imediato. "Peguei mais alguns contatos e investiguei até chegar a você". Sentou-se na beira da calçada e desligou, indignada.

      Sabia que era verdade o que a tal de Alesca havia lhe contado. Não era a primeira vez que passara por situação semelhante ou até pior. Uma vez arrastara Antônio Pedro de dentro de uma igreja, quando estava prestes a se casar com uma zinha sem eira nem beira que encontrara pelo caminho. Desde que o conhecera já havia decidido tomar posse absoluta dele. "É meu e ninguém tasca", repetia para quem quisesse ouvir. Chorou, de ódio, de revolta, de cansaço de tanto ir atrás de seu amor, sua paixão, e nunca ser reconhecida como a única a ser idolatrada eternamente por ele. "Ah, vai ver homem é assim mesmo", pensava alto, enxugando as lágrimas que lhe borravam o rosto por causa do rímel. E imediatamente respondia que o homem dela não seria assim não, que ela daria um jeito custasse o que fosse.

      Alesca, no entanto, apesar de ter desabado num choro inconsolável, se sentiu vitoriosa. Tinha certeza que o canalha ficaria sozinho por um bom tempo e se dependesse dela não arrumaria mulher nunca mais. Ainda amava-o, mas não suportava a traição. Arrancaria o mal pela raiz e se esqueceria dele, com o tempo. Falava em voz baixa que mulher como ela não arrumaria em lugar algum, afinal canalha só atrai mulher vagabunda. Essa era sua fórmula de esquecimento, rogar praga para o resto da vida naquele que lhe roubou o coração e jogou fora. Bem feito para ele, repetia, ficou sem uma boa mulher, quem perdeu foi ele e não eu.

      Rute, ainda com os olhos molhados, ligou para Antônio Pedro e exigiu sua presença imediatamente em sua casa. Claro que foi atendida prontamente, pois quando falava "grosso" ele obedecia, para seu bem. Ele gostava, e como gostava dessa disputa entre fêmeas por seu macho.

      Ainda demorou um bom tempo até o canalha aparecer para, mais uma vez, se fazer de vítima. Assim que colocou os pés para dentro, Rute foi logo lhe arrancando as roupas e arrastando-o para o chão, no tapete já surrado, imitação de persa, comprado em vendedor porta a porta.

      Ele, como um bom obediente e temeroso com a braveza da mulher, concordava com tudo, beijando-a em todas as partes do corpo. Ela, fazia-o prometer mais uma vez que nunca mais repetiria a safadeza de traí-la com qualquer ordinária que ele encontrasse pelas ruas. Mulher dele era só ela.

      E, claro, pela milésima vez, obedecia, feliz.

      Fim.

4 comentários:

  1. Cada um tem o amor que merece, diz o ditado, assim como se diz: a escolha certa do parceiro. bjs

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  2. Adoro te ler e teus enredos mirabolantes,rs Muito legal mais esse! bjs, tudo de bom,chica

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  3. Retratou bem o que algumas pessoas vivem, conheço uma assim afff e não entendo como pode....mas cada um é cada um.


    Os seguidores do Café entre amigos elegeram os melhores blogs de 2014, parabéns o seu está entre os vencedores. Convido com muito carinho para vi conferir o post e receber o selo especialmente criado para os eleitos.
    http://www.cafeentreamigos.com/2014/12/seguidores-do-cafe-entre-amigos-elegem.html

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  4. Nossa que história, hein?
    Adorei!
    Um beijinho carinhoso para tí, Clara
    Verena e Bichinhos

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